A atual vice-campeã do carnaval de Florianópolis traz para a Passarela Nego Quirido o enredo “AIURI-CAUA”, assinado pelo carnavalesco Raphael Soares.

A agremiação contará uma história amazônica que tem como personagem o cacique Aiuri-Caua, ou Ajuricaba, cujo legado se resume em uma palavra: resistência.

Para desenvolver a história o carnavalesco faz um misto de fato da história com as lendas que envolvem essa atmosfera mística que a própria floresta apresenta.

De fato, Ajuricaba foi um índio que lutou contra a invasão portuguesa na tentativa de escravizar indígenas. Seu pai já havia sido morto e Ajuricaba se viu na missão de lutar contra tudo aquilo que poderia resultar na escravização de seu povo. Ele foi aprisionado e na viagem para seu julgamento preferiu a morte a se tornar escravo, lançando-se no rio.

            Neste contexto, entra em cena os personagens da mitologia indígena: Mauarí, o pássaro guardião, que busca por Ajuricaba; reino de Jurupari, para onde Mauarí chegou quando adormece e recebe uma revelação em sonho; o legislador de mitos indígenas, entre outros.

É neste sonho, em frente ao legislador de mitos que Mauarí recebe a revelação da profecia dos “guerreiros que sairão da lama”

Ao acordar o pássaro guardião voa a todas as tribos para fazer o anúncio e de cada tribo um cacique foi assistir à concretização da profecia, presenciando os Taxauas mortos de guerra, erguendo-se das águas. Estava de volta Ajuricaba para entrar na história e hoje é a inspiração da Consulado para falar de história, lendas e resistência indígena.

Pessoalmente me agrada temas históricos, em especial histórias que precisam ser desveladas. Ajuricaba é um personagem da história cuja vida nunca foi retratada em livros de História do Brasil, exceto por aqueles que regionalmente pesquisam sobre o tema. Eis mais uma forma de popularizar e dar luz a verdadeiros heróis do nosso país, como o personagem da história a ser contada pela agremiação.

O samba que contará essa história é de autoria dos já renomados compositores Casinha, Conrado Laurindo, Edson do Tamborim, Jacson do Cavaco, João Bello, Ricardo Martins, Sequinho do Cavaco e Willian Tadeu.

Analisando a letra, percebe-se perfeitamente alinhada à proposta do enredo, conseguindo expressar de forma bem sintetizada toda a história. Em que pese um tema amazônico, indígena e que necessariamente aparecem palavras não comuns ao vocabulário, os compositores apresentaram boa saída para o uso dos referidos termos no samba, a fim de não atrapalhar no canto.

Destaque para o trecho “Vai clarear... se cumprirá a profecia/No esplendor de um novo dia/o amor florescerá”, além da sequência de rimas emparelhadas.

No mais, é aguardar o dia do desfile para assistir essa história inspiradora!